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Falecimento


1897 — Morre Antônio Conselheiro

Antônio Vicente Mendes Maciel, conhecido como Antônio Conselheiro, foi um líder religioso que congregou à sua volta um grupo de seguidores os quais ergueram a segunda maior cidade da Bahia de sua época, Canudos. Autoridades clericais e políticas, sentindo-se ameaçadas pelo seu discurso — tido como subversivo — e pelo rápido crescimento e fervor de seu rebanho, passaram a persegui-los até que fossem totalmente eliminados.

 

Conselheiro nasceu em 13 de março de 1830, na Vila do Campo Maior de Quixeramobim, na época, pertencente à Província do Ceará. Havia perdido a mãe ainda muito criança e sofria maus-tratos da madrasta. O pai comercializava secos e molhados e tinha propensão ao alcoolismo. Um dos maiores motivos de orgulho desse pai, no entanto, era ter o jovem Antônio como auxiliar, revezando entre suas obrigações de estudante e de balconista.

 

O aumento das dificuldades financeiras agravou o alcoolismo do pai, e, para confortá-lo de alguma forma, o filho passou a ler-lhe passagens da Bíblia.

 

Após uma sucessão de problemas, que incluíram a morte de seu progenitor, a assunção das dívidas familiares e culminaram com sua esposa lhe abandonando, Antônio Conselheiro voltou-se totalmente à pregação religiosa, a partir de 1874. Até então, havia sido caixeiro, escrivão, professor; e morado em cidades como Sobral, Campo Grande e Crato.

 

Quando passou a se dedicar totalmente à atividade religiosa, sua vida errante, sem morada fixa, continuou. Pregava pelo interior do Ceará, Pernambuco, Sergipe e Bahia. Aos poucos, à sua volta formou-se um grupo de devotos, que, fielmente, acompanhava-o em suas pregações.

 

Por onde passavam, ele e seu grupo prestavam serviços às populações locais, como construir e restaurar igrejas, erguer muros de cemitérios, abrir reservatórios de água e até fundar povoados. Com isso, a fama de milagreiro e sábio de Antônio Maciel espalhava-se e consolidava-se, atraindo cada vez mais seguidores.

 

Incomodados com o apelo daquela figura carismática ante a gente humilde dos locais por onde pregava, lideranças clericais começaram a proibir suas comunidades de assistirem àquelas pregações, mas as tentativas eram vãs. A fama de santo só aumentava em meio aos habitantes miseráveis e sem-esperança daquelas terras inóspitas. Muitos abandonaram a Igreja e passaram a segui-lo, outros deixaram os empregos nas fazendas. Em 1876, lideranças regionais da Igreja Católica requisitaram o afastamento de Conselheiro da região. Tentaram a prisão e o internamento em uma instituição para doentes mentais, mas nada era efetivamente provado contra sua pessoa, e ele sempre conseguia a liberdade.

 

Após mais de 20 anos de pregação por todo o interior nordestino, sua fama de profeta já havia se consolidado por toda a região. Não era mais apenas um louco inofensivo que competia com a Igreja por fiéis. Doze jagunços, conhecidos como doze apóstolos, faziam sua guarda pessoal. Sua atitude de incitar o povo a queimar editais anunciando o aumento de impostos em Bom Conselho deslocou 30 policiais para perseguir seu grupo, mas não obtiveram sucesso.

 

Novamente em trânsito, fixaram-se em uma fazenda abandonada, às margens do rio Vaza-Barris, e ali ergueram outra comunidade, Canudos. Nela, a propriedade da terra era comum e os bens eram compartilhados por todos. Comerciantes, bandidos, desvalidos, negros, índios, pessoas com posses; gente de todas as procedências era atraída pelo sonho de uma sociedade solidária. Os recém-chegados entregavam todas as posses a Conselheiro, o dia a dia era de dificuldades e limitações, as moradias eram de pau-a-pique, mas chegaram a ser erguidas ao ritmo de 12 por dia, tal era o número de pessoas que desejava partilhar da esperança de uma vida menos injusta.

 

Apesar do isolamento e das barreiras geográficas naturais para se chegar ao novo assentamento, a comunidade foi sucessivamente atacada por forças enviadas pelo governo. Mesmo a superioridade do número de homens e de armamentos não era suficiente para vencer os seguidores de Antônio Conselheiro. A resistência e a garra com as quais a comunidade se defendia surpreendiam e humilhavam as forças oficiais.

 

Finalmente, em 5 de outubro de 1897, deu-se a destruição definitiva do arraial, então reduzido a 2 homens, um velho e uma criança. Tombaram diante da fúria irracional de 5 mil soldados.

 

Antônio Conselheiro, já morto e decapitado, teve sua cabeça preservada e transformada em objeto de estudos, na época, tidos como científicos.

 

Foi necessário enviar quatro expedições, com milhares de soldados e superioridade massacrante de munição e armamentos, para exterminar o vilarejo. Os confrontos ficaram conhecidos como Guerra de Canudos, e ocorreram entre 1896 a 1897.

 

Euclides da Cunha esteve no local, ao final do enfrentamento, como correspondente do jornal O Estado de S.Paulo. As observações e reflexões sobre o que testemunhou ali, registrou num livro, Os Sertões, que exigiu cinco anos de intensa dedicação até ser concluído.